Depois de muitas vivências, pesquisas sobre a temática e com pessoas que vivem com HIV, hoje, me coloco disponível e com agenda aberta para tecer fios e formas com essas pessoas.
Abro espaço para que o invisível possa ser visto; dito. Nas suas diversas formas: corpo, verbal, não-verbal. Inclusive, para que não seja dito. Lugar que você possa, de fato, se ver como quer, consegue e deseja.
Corpo que conheça a liberdade dos seus fios vermelhos e para além deles.
Corpo que não seja limitado a um corpo.
Um corpo-ilimitado – como condição sine qua non.
Me deparo com inúmeros corpos que se entendem como
“vazios”. Desse vazio, o sangue evapora. E a alma… ah, a alma pesa. Caminhar junto a esses corpos é interlaçar os fios e possibilitar novas formas.
Apesar das inúmeras discordâncias de sorologias que se entrelaçam corpo afora, aqui tem lugar para o afeto, histórias, projetos. Acolhimento frente ao emaranhado de fios, que positivamente, une, constrói.
Meu fazer terapeuta é, também, lembrar de guardar no bolso os poemas, a linguagem, a classificação medicinal para estar disponível para esses corpos inscritos em um tempo que tem em seus fios a memória-vírus-viva.
Silvestre Neto
CRP 09/20038