Desacostumar-se de lugares onde não há troca

Desacostumar de lugares onde não há troca é sair do automático, da anestesia relacional, e perceber que há uma diferença imensa entre simplesmente estar e, de fato, pertencer. O corpo percebe o vazio que habita esses espaços estagnados. Porque onde não há troca, não há crescimento. Não há diálogo verdadeiro, apenas monólogos mascarados de convivência.

Desacostumar é perceber que o silêncio ali não é paz, mas ausência. Que a constância não é estabilidade, mas estagnação. Lugares onde não há troca são silenciosos de um jeito incômodo. Não é o silêncio da paz, do entendimento sem palavras. É o silêncio da falta. É perceber que você está encolhendo para caber em espaços que não se expandem com você.

E o problema não é só estar em um lugar assim — porque todos nós, em algum momento, passamos por espaços e relações assim. O problema é se acostumar com isso. Normalizar. Banalizar. Acreditar que isso é o máximo que se pode ter. Achar que não merecemos mais. E aí vamos nos adaptando: diminuindo expectativas, apertando nossos sentimentos dentro de moldes alheios, silenciando partes de nós para evitar conflitos, para manter vínculos que, no fundo, já se desfizeram. Nos habituamos ao mínimo, porque o mínimo é o que está disponível ali.

Desacostumar é abrir espaço para o novo, para o vivo, para o recíproco. É entender que relacionamentos — sejam eles quais forem — são vias de mão dupla. Que a gente merece ser tocado, ouvido, considerado. Que nosso afeto precisa encontrar lugar para (re)pousar.

Desacostumar, então, é um ato de lucidez. Lucidez pra saber que troca é quando há escuta. É quando sua presença move algo no outro e vice-versa. É quando há aprendizado mútuo, mesmo nos desencontros. O afeto precisa circular, precisa ir e voltar.

Desacostumar de lugares onde não há troca é, no fim das contas, um ato de amor-próprio. É lembrar que somos feitos para o encontro, não para o acúmulo de ausências. É confiar que há, sim, espaços mais férteis. Relações mais justas.
É preciso ter a coragem de sair de onde já não há mais vida.

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