Há momentos em que a vida, silenciosa e implacável, empurra tudo o que construímos para a beira do abismo. São dias em que as certezas desmoronam como castelos de areia diante da primeira maré mais forte. Nessas horas, há um ruir interno e externo: ruem as paredes que nos protegiam, desmoronam os sonhos que pareciam eternos, desabam as forças que acreditávamos inabaláveis. E, no entanto, no íntimo dessa ruína, habita algo sutil e resistente: a semente do recomeço.
Desmoronar é, muitas vezes, inevitável. É parte da existência, como as árvores que perdem todas as folhas no inverno para florescerem ainda mais fortes na primavera. Ainda que o desmoronamento seja doloroso, ele carrega em si uma sabedoria que só quem já caiu conhece: a possibilidade de se reconstruir de maneira diferente, talvez até mais verdadeira.
A poeira que sobe revela o que havia sido empurrado para os cantos profundos da alma: medos antigos, dores não curadas, desejos abafados. E é nessa clareira recém-aberta, nesse chão de escombros e memórias, que pode nascer o novo. Não o novo superficial, que apenas maqueia o velho, mas um novo genuíno, que brota do reconhecimento profundo de quem se é e do que realmente importa.
Abrigar o recomeço é não é negar a dor do que se perdeu, mas escolher carregar essa dor como matéria-prima de algo mais forte e mais livre. É aceitar que, mesmo ferido, o coração ainda pulsa, ainda sonha, ainda deseja. É perceber que a vulnerabilidade é o terreno mais fértil para o criativo. Que ser capaz de desmoronar não é sinal de fraqueza, mas prova de que somos humanos, vivos e em constante transformação.
O recomeço não pede pressa. Ele pede respeito ao tempo da reconstrução. Cada pedaço quebrado precisa ser olhado com ternura; cada rachadura, compreendida, não como algo a esconder, mas como parte da história que nos moldou. Às vezes, será necessário erguer novas estruturas sobre fundamentos diferentes, mais firmes. Outras vezes, será preciso apenas aprender a viver entre os destroços, até que um novo caminho se revele.
É preciso lembrar que desmoronar não anula tudo o que fomos. Há algo em nós que permanece, como a chama que resiste mesmo em meio aos ventos mais impiedosos. E é dessa chama que se acende a primeira centelha do recomeço — discreta, quase invisível a olho nu, mas capaz de incendiar o mundo inteiro se lhe dermos espaço.
Assim, desmoronar e ainda assim abrigar o recomeço é uma arte silenciosa, feita de paciência, de esperança Silvestre Neto psicologo terapia terapeuta LGBT luto ansiedade depressao relacionamentos familia setor bueno goianiatímida e de amor próprio. É reconhecer que a queda também é uma forma de voo — o voo que nos leva de volta para dentro, onde tudo pode recomeçar.
Porque no fim das contas, a verdadeira força não está em nunca cair, mas em aprender que, mesmo em meio às ruínas, é possível plantar flores.